Claro
Muito sinceramente
Não sei o que me mantém vivo
Porque bate o meu coração
Que razão tem o meu organismo para funcionar
Nada tenho a que me agarrar
Com sinceridade o digo
Sem pesos, sem levezas
Sem uma vida, porque vivo?
Uma vida que sempre me foi superficial
Uma superficialidade que não afeta a sinceridade que neste momento me afeta
Quando mesmo o prazer não nos traz prazer
O que resta de nós?
A verdade
Em verdade o digo
Com verdade declaro
Que o viver sempre me foi estranho
Vejo-vos a viver e penso:
Que estranho é viver
Que estranho é pensar
A estranheza de passar de dísticos para estrofe irregular
Sem o explicar
A obsessão com o modo verdadeiro
De tratar verdades
Acho que vos quero dizer
A vocês
Que isto tudo é muito estranho
E que me sinto o mais estranho
Porque em mim me centro e quero que em mim se centrem
Claro que, racionalmente, sei que isto tem biologia
Psicologia, sociologia e materialismo
Mas não parece, por momentos, que os versos podem ultrapassar tudo isso?
Esqueçam o pensar
Esqueçam o estudar e julgar e o concluir
Esqueçam as palavras
Esqueçam a vida e,
Por fim, esqueçam o esquecer
Ouçam boa música