Palavrear
Por mais que escreva, O que escrevo são palavras Nunca deixaram, nunca deixarão de ser palavras E por mais que se façam correspondências no dicionário e ligações no vosso cérebro Apesar de um dia estas mesmas palavras terem estado em canto nos Lusíadas e em génio em Pessoa Em mim voltam a ser o que nunca deixaram e nunca deixarão de ser: Palavras Por vezes pergunto-me, No meio de toda a agitação pseudo-boémia ou boémia em verdade Se sou o único que as vê As letras Como traços coordenados A aproximarem-se industrialmente Naquilo a que um dia chamaram de palavra Naquilo a que um dia aprendi que era uma frase Naquilo a que agora chamo de poema Porque, se estamos para inventar, não quero ser excluído